Mountain Quest - Ou o dia em que voltei a acreditar que há mais para além de tempos


Vamos a factos.

A descrição da prova anunciava 180km com cerca de 6000D+ para o desafio Mountain Quest. É mentira. Tinha cerca de 168km com 6000D+.

Conclusão: ainda era mais dura do que prometia!

Em vésperas deste desafio, coloquei preto no branco como é que me estava a ver nesta situação e qual o meu objetivo. Basicamente foi uma carta de intenções em jeito de ai meteste-te nela agora aguenta-te.

Depois de já ter feito o Kings Challenge e o Los 10000 del Soplao, sabia que era mais um desafio mental do que físico se mantivesse um ritmo moderado. O meu maior medo era que estivesse muito calor por causa da asma, mas felizmente que tal não aconteceu e gerindo bem o esforço consegui acabar o monumental empeno sem parecer que tinha sido atropelada por um camião.

Voltando aos factos:
  • não bati o recorde de maior distância percorrida por 100 metros (fiz 168,5km e a minha maior volta continua a ser de 168,6km)
  • bati o recorde de maior desnível positivo numa única volta (segundo o meu GPS: 5924D+)
  • bati o meu recorde de total de horas a pedalar (14h55m55) e gasto numa única volta (19h28m28)
  • bati o meu recorde de subir montada a rampa com maior inclinação (41% segundo o Doarama e uma-inclinação-do-caraças segundo as minhas pernas)

Os factos estão dados, vamos agora ao que realmente interessa.

Na sexta-feira, chegámos a Amarante mesmo a tempo do briefing depois de um dia normal de trabalho. Foi pena não termos conseguido perceber nada, mas o ruído de conversas cruzadas não deixava perceber os conselhos que estavam a ser dados.

Assinámos o nosso nome no placard, trocámos uns mimos com amigos que também tinham decidido aceitar este desafio, conhecemos finalmente o Pedro Marinho em pessoa, e, seguimos para casa para preparar as bicicletas e tentar dormir qualquer coisa.


Depois de tudo pronto, já passava da meia-noite quando nos deitámos e eram 3h30 quando o despertador nos mandou levantar. Ao contrário do que imaginava, sentia-me menos nervosa do que quando me deitei e mais confiante. Sim, não treinámos nada para este dia nem estávamos na nossa melhor forma, mas a vontade que nos trazia ali e que nos moveu a aceitar este desafio ia muito além da capacidade física. Não terminar simplesmente não era opção a menos que algo sério nos impedisse de continuar.

Às 4h30 já estamos na partida como tinha pedido o Pedro Marinho. Iria levar um tracker e estar antes da hora de partida ajudava a organização.


Se quando chegámos não havia quase ninguém, em menos de nada a recta da partida ficou cheia de bicicletas e atletas ávidos por começar, e, mesmo a tantos quilómetros de casa, a quantidade de caras de conhecidas era enorme!


Acabei por ficar mesmo na primeira fila da partida e o Fred um pouco mais atrás. Tínhamos combinado ir cada um no seu ritmo mantendo contacto por telemóvel para sabermos um do outro. Num percurso tão exigente e, estando nós com ritmos diferentes, encarar este desafio como uma cruzada pessoal era mesmo o mais acertado a fazer.

A partida atrasa-se com a distribuição dos trackers e eis que, no momento em que anunciam que vai ser dada a partida, me apercebo que o meu GPS se tinha desligado. Só tenho tempo de o voltar a ligar, verificar que ainda está a gravar e arrancar (e o meu ar ficou eternamente imortalizado em fotografia hehehe)


Depressa perdi os que alinhavam na frente comigo mas a ideia não era ir a esmagar pedal para acabar no menor tempo possível. O objectivo era simplesmente chegar ao final. E era isso com isso em vista que repetia para mim: controla essa pedalada, não te esforces em demasia, não queres irritar essa asma, protege-te!

Conforme ia sendo ultrapassada pelos atletas que vinham de trás, ia ouvindo uma ou outra palavra de incentivo de amigos tão doidos ou mais do que eu. Alguns ainda consegui reconhecer e trocar uns mimos, outros nem por isso, mas sabe sempre bem ouvir um "sandrinha!" ou um "trancinhas!".

Passados uns quilómetros começo a desconfiar que o meu GPS não está a seguir track nenhum. Ora bolas, bela coisa de acontecer a uma maçarica como eu. Se não estiver, será que consigo por a seguir o track sem parar de gravar? E como é que isso se faz?! Como ainda era de noite e ia muita gente junta, decido aguardar por haver luz natural e não stressar com o assunto. Afinal, não me adiantaria mesmo de nada. Decisão acertada, porque assim que tive luz, parei e com calma descobri como carregar o track sem interromper a gravação.

Os quilómetros foram-se sucedendo e as subidas também, mas o que aprendi com os Los 10000 del Soplao permitiu-me não me queimar, e, ao mesmo tempo que o acumulado aumentava, também a certeza de que conseguiria acabar se intensificava.

Por volta dos 21km vejo um amigo a arrancar marcações de uma outra prova. Pergunto-lhe o que se passava e diz-me que outro amigo tinha partido o selim. Em menos de nada estava a sacar abraçadeiras do camelbak e a tentar prender o maldito selim para que não fosse isso que o impedisse de terminar.


Num verdadeiro espírito MacGyver, com uma fita de marcação, algumas abraçadeiras e outro tanto de fita adesiva depois, o selim está o mais firme que se consegue e o Fernando está pronto a seguir viagem. A paragem inesperada é que me fez arrefecer e assim que surge uma subida, a asma fez-se anunciar e obrigou-me à primeira das muitas "bombadelas" do dia. Ainda assim, o saber que tinha ajudado alguém (que conseguiu chegar ao fim mesmo com um selim bamboleante) compensou largamente essa primeira tareia do dia.

A chegada ao topo da Aboboreira foi qualquer coisa de mágico. A vista que se teve ao longo da subida, o poder apreciar o dia a começar, e, terminar com uma vista sobre as nuvens que pareciam natas batidas não tem descrição possível. Se querem saber a que sabe um momento assim, têm de lá ir.



O espírito do Mountain Quest estava definitivamente enraizado em mim e aqui, tive a certeza que ia chegar ao final. Sentia-me bem, o acumulado subia de forma exponencial o que significava que para a frente por mais difíceis que fossem as subidas teria mais tempo para recuperar entre elas. Foi por aqui que enviei a primeira SMS ao meu cara-metade a dizer-lhe que faltavam 130km para chegar. A resposta veio logo a seguir, estava a 5km e motivado.

Nos quilómetros seguintes percebi o quão maquiavélico era este percurso. As descidas na verdade só existiam para nos voltar a por a subir o que já tínhamos descido. Essa essência de malvadez fez-me lembrar o UHD3000 só que com subidas mais limpas e melhor vista.

No entanto, nada ali me fazia dar a tareia como mal empregue. Estávamos em plena comunhão com as serras e as suas gentes.


Cada descida indicada como perigosa enchia-me as medidas no que toca a diversão. Se andei a pé um total de 100 metros nestas descidas todas foi muito, mas em algumas zonas preferi não arriscar por temer um corte num pneu ou alguma queda.

Na primeira de todas, lutei contra um dos meus maiores pânicos ao ter de pedalar num trilho fininho com rasgos fundos de ambos os lados. Terminar esse troço sem por o pé no chão fez-me ganhar logo ali o dia e dar-me a mim própria uma palmadinha nas costas. Afinal, se o objectivo era a superação pessoal já o tinha cumprido ali.

A primeira paragem para comer foi feita no café de Ferraria. Quando lá cheguei estava apinhado e perdi algum tempo só para ser atendida. Depois foi comer com calma, trocar uns dedos de conversa com o pessoal conhecido e quando me preparava para ir embora eis que surge o Fred! Que felicidade! Enfardei mais uma bola de Berlim, trocámos impressões do que tínhamos vivido até aí e segui enquanto ele acabava de comer. Já tinha arrefecido demasiado e a asma não gosta disso.

Foi assim, de barriguinha cheia e coração consolado, que cheguei a uns dos pontos que mais aguardava! Ao temido Muro da Ferraria. Seria este o que me permitiria bater o recorde da subida com maior gradiente, e, depois da foto com tabela que nos mandava perder a esperança, enchi-me de vontade e fiz-me ao asfalto.

Subi tudo montada como era a vontade mas tive de parar numa sombra para fazer mais umas bombadelas. Com a excitação, as fotos e a conversa com outro atleta, esqueci-me de fazer as inalações antes de começar e paguei o preço. Mas onde parei, foi onde recomecei montada para descobrir que a pura da subida afinal acabava a meia dúzia de metros daquele local... soubesse isso e nem tinha parado mas a prudência falou mais alto!


Terminada a subida esperava-me um belo de um tanque para refrescar com os amigos feitos ao longo destas subidas. Afinal de contas, um empeno partilhado é sempre mais agradável nem que seja pelo simples facto de que quando acaba somos muitos a ficar contentes!


Continuamos assim, bem mais fresquinhos para a tareia seguinte. O sol já não perdoa e qualquer oportunidade é boa para baixar a temperatura do corpo.

As subidas do Marão não foram fáceis principalmente pelo calor. Muitos eram os que optaram por ir a pé. Eu ia avançando montada, praticamente ao mesmo ritmo dos que seguiam a pé, mas parando em algumas sombras para recuperar o fôlego, e, garantir que não me queimava por má oxigenação pondo assim em risco o grande objectivo do dia.


Topo a topo, a certeza de chegar ao fim tornava-se mais forte. O pior já estava. A partir daqui havia o mesmo de subida dividido por muito mais quilómetros e a temperatura iria começar a baixar em breve.


A cada quilómetro feito sentia-me cada vez mais em comunhão com o que me rodeava. Embora perto de mim seguissem os mesmos atletas com quem partilhava os trilhos há já umas horas num jogo do elástico, esta estava a ser uma viagem a solo. Era algo que nunca tinha feito e que estava a descobrir gostar. Eu era a responsável por saber por onde tinha de ir, eu era a responsável pelo meu material, eu era a responsável pelo meu bem-estar e parecia estar a dar conta do recado. Palminhas para mim.

A chegada ao topo foi qualquer coisa de extraordinária! Ali estava eu, a sentir-me bem e cheia de motivação para continuar. E, embora a organização não pudesse ajudar, não vamos contar a ninguém que foram eles que nos ajudaram a registar mais uns momentos para mais tarde recordar!



Confesso que foi aqui que percebi que aquele medo que sentia em encontrar negócio e não a alma que criou o Mountain Quest se tinha desvanecido. Em todos os momentos, a preocupação de cada elemento do staff era a de saber como estávamos e de nos motivar a continuar. Nunca me senti nem controlada nem pressionada com tempos. Simplesmente sentia empatia de todos com quem me cruzava. Definitivamente, encontrei o que esperava encontrar.

Logo a seguir a esta violência veio a melhor descida do dia. Um rockgarden mesmo ao meu gosto mas que em alguns momentos me fez desejar por uma bicicleta de suspensão total. As minhas costas não estão habituadas a carregar tanto peso durante tanto tempo e depois de terem sido moídas nas subidas implacáveis, esta descida acidentada não as estava a mimar nada. A 90km da chegada decido enviar a segunda SMS ao Fred, Imaginei que ele estaria a lutar com a subida do Marão e quis garantir que a conquistava pronto a continuar. A resposta chegou quando ele se preparava para deixar o cume do Marão, garantindo que estava decidido a conquistar a serra seguinte. Eram as palavras que queria ler!


Esperava-nos o Alvão. A minha serra. E como tinha vontade de a reencontrar!

No café seguinte volto a fazer uma pausa demorada. Ainda estava calor, e era uma forma de me proteger mais um pouco e garantir que a asma se mantinha sob controle. As subidas do Marão e o calor já me tinham obrigado a usar a bomba mais do que queria, pelo que se conseguisse minimizar o seu uso nas horas seguintes seria excelente.


Depois de uma bela cerveja preta e barriga aconchegada, sigo à conquista do Alvão. Ou pelo menos era essa a ideia até ver o alerta de bateria baixa no GPS. Páro para ligar o dito ao powerbank e é quando a coisa começa a dar para o torto. O cabo não carrega a menos que esteja a fazer pressão. Agora é que já te tramaste, pensei para comigo. Entretanto o pessoal com quem seguia já tinha desaparecido e só passado um bocado é que ouço alguém a perguntar se preciso de ajuda. Digo que sim, que preciso de fita adesiva e só quando ele se põe à minha frente é que percebo que era o Fred!!!

Usámos a fita para colocar o cabo em tensão mas fico com o visor tapado o que me obriga a depender de outrem pelo menos até conseguir que o GPS carregue qualquer coisa. Seguimos, mas pouco mais à frente surge uma subida com mais pedra e a cada safanão o cabo deixa de carregar. Começo a dizer mal à minha vida e subo com a bicicleta à mão na tentativa do cabo não se desligar. Tentativa vã que mesmo todo enrolado em fita estava mais tempo sem contacto do que a carregar.

Cedo a experimentar o cabo do Fred e este funcionava sem problemas. Combinamos que eu o usaria até ter de novo bateria suficiente e que depois ele continuaria a carregar o seu GPS. Talvez fosse esta a forma do destino dizer que por mais pessoal que fosse este desafio, o nosso lugar era terminá-lo juntos. E assim foi.

Na subida seguinte temos mais uma oportunidade de ajudar um companheiro, e, acabamos por seguir os três à conquista do Alvão. Ao Fred as subidas já o mastigavam mais, especialmente ao seu joelho, mas a sua resiliência é uma lição para quem a quiser aprender. Eu ia avançando num ritmo mais lento do que seguia até aí mas o privilégio de partilhar a conquista da minha serra com ele era tudo o que queria.

Foi um pouco mais à frente que os astros mais uma vez conspiraram a nosso favor ao sermos apanhados pelo Francelino, o melhor bike-vassoura de sempre!

A conquista do Alvão foi toda feita em conversa amena, trocando muitas experiências de vida e com direito a fotógrafo pessoal!



O nosso ritmo estava muito diferente e a minha asma não me permite parar muito, pelo que fiz novamente grande parte da subida final sozinha. O Francelino seguia com o Fred e fiquei à espera deles junto da desejada tabuleta. Aqui sofri pelos dois. Não queria que fosse o Alvão a impedi-lo de chegar ao fim. Mas quando os vi chegar e lhe vi o sorriso, sabia que não havia mesmo nada entre ele e a chegada a não ser a distância. Orgulho em quem não joga a toalha no chão!



Depois de uma sopa quentinha na cabana e de encher o pneu traseiro do Fred que a partir desse momento iria dar que fazer, seguimos directos à conquista do último topo. Os caminhos já eram nossos conhecidos e não consigo descrever a emoção de reconhecer cada curva e de saber que a aldeia do meu pai "era já ali". Que vontade de fazer um desvio e ir matar saudades!!!


O piso do Alvão não é fácil e volto a ganhar algum avanço. No entanto, queria chegar ao topo da Sra. da Graça com ele pelo que vou esperando. Chegámos já de noite ao contrário do que era nossa vontade e eu descubro que não tenho nenhuma água. Haviam mais dois atletas para trás e o Francelino comunica com o bike-vassoura que vinha com eles dizendo que esperaríamos para seguirmos juntos a partir daí.


Vejo na cara do Fred que a ideia não lhe agradava e eu também não queria parar muito mais tempo. Estava a ficar frio e se eu arrefecesse ainda mais a asma podia fazer das dela. Decidimos assim ir avançando os dois com a certeza de que eles em breve nos apanhariam. Parámos na fonte junto da estrada para abastecer de água e seguimos a curtir a descida até voltarmos a entrar nos trilhos.

E é aí que de repente vejo a minha vida a andar para trás. Os meus olhos começam a ficar pesados e sou assolada por uma vontade de dormir avassaladora. Sabem quando estamos a conduzir numa autoestrada na hora do calor em que a moleza se instala e os olhos se fecham amiúde? Era assim, só que de noite, com tempo fresco e sem traço sonoro para nos fazer acordar se deixarmos fugir o volante.

Começo a stressar e às tantas perdemo-nos. Aí o cansaço com o stress à mistura deixam-me à beira de um ataque de nervos. Queres ver que a escassos quilómetros sou eu que não vou chegar ao fim?!

Depois de andarmos para a frente e para trás um bocado, lá damos com o trilho e seguimos. Era a vez do Fred tomar as rédeas e de garantir que continuava a pedalar. Quando somos apanhados pelos restantes, tento manter-me a pedalar com eles mas o sono e a dificuldade em manter os olhos abertos eram tantos que a única coisa que sinto que me vai impedir de adormecer em cima da bicicleta é pisar nos cranks e pedalar o mais depressa que conseguir.

Pedalo até surgir o Pedro e a Sandra a assinalar a última fonte de água que nunca encontraríamos de tão escuro que estava. Encho o bidon, mas o cansaço é cada vez maior. Sigo o conselho de tomar um gel com cafeína e desapareço a pedalar o mais depressa que consigo.

Passado um pouco sou apanhada pelo Pedro e pela Sandra que me dizem que o Fred estava preocupado comigo e que tinham vindo ver se estava bem. Digo-lhes que sim e que lhe digam mas é a ele que se despache. Estava literalmente a pedalar e a dormir de olhos abertos e só queria ver o caminho feito.

Já não sei se antes disto ou depois, há um momento em que simplesmente páro de pedalar e adormeço em pé com a cabeça no guiador. Sou acordada com a voz da Sandra que me manda seguir.

Volto a pedalar com a genica que me resta depois de confirmar que eles vinham todos juntos e desde esse momento até entrar na estrada que nos levaria a Amarante, juro que o estradão era sempre igual, só feito de curvas à direita e todas elas com a mesma planta no mesmo sítio, curva após curva. Ainda ia saindo estrada fora ao adormecer enquanto pedalava, mas felizmente que depois desse susto, não voltei a fechar os olhos e pedalei com a certeza de que poderia não chegar antes da meia-noite mas que nada me iria impedir de chegar ao fim.


Antes da chegada à meta tento parar para esperar pelo Fred, mas sou "empurrada" para a frente com a promessa de que ele já ia aparecer. Atravessar a meta sem ele não era opção e com tanta insistência para que continuasse temo que ele tenha sido obrigado a desistir por algum motivo. Quando dou por mim, estou prestes a cruzar a meta e nada de Fred. Travo e fico ali, a um escasso metro da tão ansiada chegada e com festa a ser feita à minha volta. Não vi nada, não ouvi nada. Só sei que rejeitei todos os parabéns e que desatei num pranto. Não ia passar sem o Fred passar comigo. Não estávamos a correr em dupla, mas nem tudo se resume à corrida.

Ninguém percebe porque raio eu não passo. Até que a Luli vem ter comigo e eu lhe explico por meio de soluços o que me impedia de terminar.


Ela explica a todos pelo microfone e vêm-me mostrar na aplicação que segue os trackers que ele está mesmo quase a chegar. Era o que precisava de ouvir. Afinal ele não tinha desistido e estava mesmo aí.

Aceito assim a bifana acabada de assar pelo primeiro Mutante da história. Quanta honra.




Estava uma verdadeira delícia, hehehe. É nessa altura que começo a perceber a quantidade de gente que ainda ali estava à nossa espera incluindo os nossos amigos. Carambas, que sensação!

Mas é quando me avisam que ele está a chegar que tudo faz sentido! Volto para trás para o esperar e percorrermos juntos os últimos metros e o rapaz passa por mim que nem uma flecha! Olha queres ver que eu faço uma cena e ele acaba sem mim!? Grito-lhe que ainda não passei e ele lá me deixa chegar ao pé dele!


Agora sim, o Mountain Quest está terminado cumprindo toda a sua essência mais pura. A superação pessoal, a comunhão com a natureza e a interajuda.




Ser finisher desta prova para mim não corresponde nem a tempos, nem a uma medalha, nem a um pódio. É algo que vai muito além das palavras e dos números impressionantes que se fazem para a completar.

O Mountain Quest não são 180km ou 168km com 6000D+. O Mountain Quest é uma forma de estar na vida, se for essa forma como o decidimos encarar. Cada atleta que cruza aquela meta teve de se superar seja de que forma for num qualquer momento da prova. E muito provavelmente ninguém cruzou aquela meta sem ter tido o apoio de alguém com que também partilhou os trilhos.


Acabei por ser a única mulher a terminar a 5ª edição do Mountain Quest o que confesso me sabe a pouco. Gostava de ver mais mulheres a aceitarem este tipo de desafio e não acho que sejamos menos capazes de o conseguir. Espero que para o ano esse número seja muito maior e tentarei ajudar para que assim aconteça no que tiver ao meu alcance.


Repito as palavras que já tinha escrito quando acordei depois de ter terminado esta aventura:
Pedro, Sandra e Francelino, a medalha que conquistámos à chegada não chega aos pés do que ganhámos em amizade e superação pessoal. Obrigada a todos os que são MQ mas em especial a vocês três. Têm aqui dois amigos para o que precisarem.
Ao Frederico, o que agora te falta em pernas sobra em perseverança. Obrigada por sem saberes me ensinares tanto. Acabaste. Acabámos. Orgulho em ti.


A todos os que mantém o espírito do Mountain Quest vivo, o meu mais profundo obrigada. Sois enormes e para o ano, se não houver nenhum azar, lá estarei novamente mas desta vez com um novo objetivo: Ir com o mesmo espírito, parar sempre que surgir a vontade de contemplar o que nos rodeia, mas acabar de dia! Afinal, se é de superação pessoal que estamos a falar há que elevar a fasquia!

Por mais duro que seja o empeno, que nunca perca o sorriso. Não há impossíveis onde existe a vontade, nem caminho que se faça sozinho. Obrigada a todos os que tornaram possível esta minha conquista, especialmente aos amigos já levava comigo e aos que ganhei nesta minha jornada.



Dados do Strava:

 

4 comentários:

  1. Cara Sandra depois de assistir à alegria que foi a sua chegada e agora depois de ler o seu relato, penso que é exactamente para conhecer pessoas como a Sandra que hei-de pedalar até "morrer". LIVE LOVE, RIDE, PMaia

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    1. Pedro, muito obrigada por essas palavras! Até um próximo encontro nos trilhos :D

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